1 de março de 2006

Angola em 24 horas... ...«pode aniquilar rebelião» da Costa do Marfim

Pela importância e porque são palavras de embaixador angolano, transmite-se cópia do despacho do correspondente da agència PANA, com data de 27 Fev 06. Desconhecemos se a matéria terá chegado aos Serviços de África do MNE. E o ministro Luís Amado também eventualmente poderá estar interessado.

Arquive-se.

Segue

Título:
Angola pode aniquilar rebelião ivoiriense, segundo embaixador

Abidjan - 27/02/2006

Por Moriba Magassouba, Correspondente da PANA

Abidjan, Côte d'Ivoire (PANA) - O embaixador de Angola na Côte d'Ivoire, Carlos Belli Bello, afirmou em Abidjan que as Forças Armadas do seu país são capazes de aniquilar em menos de 24 horas a rebelião que ocupa o norte daquele país da África Ocidental há três anos e seis meses.

"O nosso Exército é capaz de fazer limpeza em menos de 24 horas! Que isso esteja claro. O Exército angolano, com a sua experiência, é capaz de fazer limpeza longe das suas fronteiras", declarou no fim- de-semana o diplomata em entrevista exclusiva ao diário de Abidjan "Notre voie" próximo da Frente Popular Ivoiriense (FPI, no poder).

"Se Angola tivesse enviado tropas à Côte d'Ivoire não haveria mais rebelião neste país e todos os que falam em nome dos movimentos armados iriam refugiar-se rapidamente nos países limítrofes", adiantou Belli Bello, desmentindo assim acusações, várias vezes formuladas pelas Forças Novas (ex-rebelião), sobre a implicação directa do seu país na crise ivoiriense.

"Não enviámos tropas aqui", insistiu o chefe da missão diplomática angolana na capital económica ivoiriense, deixando ao mesmo tempo entender claramente que o governo de Luanda poderá, eventualmente, aceder a um tal pedido se o mesmo for endereçado directamente pelo chefe de Estado ivoiriense, Laurent Gbagbo.

"Se tivermos que enviar tropas fá-lo-emos a pedido expresso das autoridades ivoirienses e não às escondidas. Isso será sabido por todo o mundo, como o fizemos na República Democrática do Congo onde o nosso Exército interveio para ajudar as forças de (Presidente congolês) Kabila que tomaram o poder mais tarde, pondo a termo a um dos regimes mais corruptos de África ", frisou o representante do Presidente José Eduardo dos Santos em Abidjan.

Belli Bello, que não hesita em se autodenominar "militante da revolução africana" para se distanciar do seu dever de reserva enquanto diplomata, criticou violentamente França que, de acordo com ele, manifesta abertamente a sua "hostilidade" aos que "desejam controlar a gestão da sua economia".

"Os acordos assinados nos anos 60 e a instalação de bases militares estrangeiras no vosso país são uma ameaça permanente à vossa soberania nacional. Todas as acções que visam a defesa dos vossos interesses nacionais são vistas como actos hostis em relação a França que não tem quer deixar a sua bela Côte d'Ivoire!", disse o diplomata, que não se coibiu de atacar o "Pai da Nação" o defunto Presidente Félix Houphouet-Boigny, que considerou praticamente como um empregado de França.

"Aqui, a potência colonizadora tinha uma dominação total e inteira nas alavancas do Estado. França decidia tudo. O Presidente Houphouet tinha secretários e conselheiros franceses. Nenhuma decisão era tomada sem o aval de Paris. No Conselho de Ministros, a agenda devia primeiro ir a Paris para aprovação. É vergonhoso, mas era a realidade", sustentou Belli Bello sem pestajenar.

Para o diplomata angolano, não há dúvidas de que o problema da Côte d'Ivoire de Laurent Gbagbo é "uma situação de tipo neocolonial que dura desde a independência nacional".

Belli Bello colocou-se depois em defensor dos "Jovens Patriotas" apoiantes do Presidente Laurent Gbagbo, dos quais dois dos principais líderes foram recentemente sancionados pelo Conselho de Segurança da ONU pelo seu papel na organização das violentas manifestações da rua que paralisaram Abidjan e algumas cidades do interior em meados de Janeiro.

"A obstinação contra os Jovens Patriotas demonstra a incapacidade das Nações Unidas de resolver os verdadeiros problemas da Côte d'Ivoire", salientou o embaixador angolano, tendo lamentado que "um africano originário do Gana, país chave na luta para a emancipação do povo negro, tenha perdido toda a sua dignidade e actue contra os interesses de África".

Interrogado sobre o apoio que Angola poderá dar aos patriotas ivoirienses, se eles quiserem um dia pegar em armas contra os franceses, Belli Bello disse não esperar que se chegue a esse extremo.

"Qualquer que seja o termo do presente conflito que opõe a Françafrica às ambições do povo ivoiriense, os peixes vão continuar a nadar, os pássaros a voar. É isto a dialéctica da vida. Tenho a certeza de que o povo ivoiriense triunfará", indicou o chefe da missão diplomática angolana, reafirmando que o seu país "apoia a legitimidade que é encarnada pelo Presidente".

Devido às suas posições distintas, que são claramente a favor do campo presidencial, Carlos Belli Bello é mal visto pela oposição ivoiriense e pela sua imprensa, que zomba dele a cada uma das suas "saídas".

O embaixador angolano trata a oposição, sem circunlocução diplomática, de "sub-homens habituados a violar, roubar, matar os seus próprios irmãos", escondidos por detrás de "forças ocultas" das quais fazem o "trabalho sujo" sem ousar "enfrentá-lo".

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