5 de junho de 2007

O grande poema do 10 de Junho. De António Braga

Grande poema, a Mensagem de António Braga. Falta a rima, mas em verso compreende-se melhor. O texto está na íntegra e o ideal seria ser musicado por António Vitorino de Almeida.

Arquive-se.

Canto único

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As celebrações do Dia de Portugal, ao assinalarem
no plano do simbólico a natureza e o grau de compromisso
entre todos os portugueses, vincando a ideia de pertença
e projecto colectivo, permitem igualmente a partilha
de uma visão quanto à realização do programa
do governo que concorre para a valorização
e respectivo reconhecimento das comunidades
portuguesas e dos luso-descendentes,

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no âmbito de uma acção eminentemente
reformista que visa construir as condições
para o progresso e para o desenvolvimento.
As circunstâncias do tempo presente, os complexos
desafios que cada país vai enfrentando,
constituem razão importante para uma maior
e mais atenta participação cívica de todos.
Em Portugal e no estrangeiro. E, valha a verdade,

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há cada vez mais portugueses a envolverem-se
social e politicamente nos destinos dos países
de acolhimento, dando dessa forma maior
visibilidade às respectivas comunidades
e valorizando o exercício da sua cidadania.
Desde sempre muito bem integrados, alvos
de publicas referências ao seu civismo, seriedade,
dinamismo e capacidade criativa, faltava

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essa maior e mais responsabilizante participação
das comunidades, individual e colectivamente.
É um processo geracional, certamente,
mas que, em crescendo, favorece a afirmação
de uma cultura democrática, tão importante
como resguardo fundamental de direitos
essenciais na era da globalização. O movimento
associativo é outra vertente de realização

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cívica, embora na sua face mais intimista,
cujo dinamismo poderá revigorar-se,
oportunamente, adequando-se as organizações
às novas circunstâncias que interpelam
a natureza fragmentária do seu actual modelo.
Há exemplos de bem sucedidas aglutinações
que, por si, potenciam as capacidades e envolvem
melhor a comunidade, pela conjugação

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das virtudes do movimento associativo que tendem
a unir e juntar meios para melhor intervir.
Paralelamente, assiste-se a uma crescente
importância da língua portuguesa em todo
o Mundo, enquanto instrumento de trabalho,
quer no campo laboral, quer como marca
civilizacional em Organizações e Fóruns
internacionais. Há hoje perto de 220

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milhões de cidadãos a falar português,
nos lugares mais díspares e distantes,
cuja relevância é cada vez mais reconhecida
pelas potências económicas, em que o critério,
insuspeito, é o da necessidade, na relação
e na aproximação a continentes onde o português
é língua oficial. Acresce que são países
e continentes com possibilidades

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de progressão e afirmação ainda embrionárias,
o que permite reforçar a ideia de futuro
para o falar português. Para além da riqueza
cultural daí resultante, nascem oportunidades
e mais desafios para motivar os jovens
na aprendizagem da língua portuguesa.
Por outro lado, o mundo empresarial
constituído pelos portugueses espalhados

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pelo mundo é um outro valor cuja energia
pode ser canalizada, em parcerias,
para afirmação e internacionalização
da economia portuguesa. O ponto de partida
será realizado através de um programa,
o Netinvest, cujo objectivo consiste
em promover a aproximação do país
a esses empresários, de modo a favorecer

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o seu relacionamento estreito, fomentando
as exportações nacionais e proporcionando
oportunidades de investimentos em Portugal.
O país tem esse dever de proporcionar
as condições de confiança ao investimento,
quer em parcerias, quer em projectos autónomos
em Portugal. Acresce o facto de nas comunidades
haver inúmeros casos de sucessos empresarias,

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quase todos desconhecidos dos congéneres
portugueses, mas cuja importância tem
o reconhecimento dos mercados internacionais.
Vivem-se, pois, tempos novos em matéria
de Comunidades e da sua afirmação positiva.
Mas ninguém vive sem memórias e, por isso,
em Outubro, durante a presidência portuguesa
da União Europeia, tendo em vista a criação

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do Museu das Comunidades Portuguesas,
levar-se-á a efeito uma Exposição, em Lisboa,
sobre a Memória da Emigração, que visa
dar a conhecer o espólio das Comunidades
Portuguesas no último século e contará
com a colaboração da Presidência da República.
Nesta exposição haverá uma componente
ligada às novas tecnologias, nomeadamente

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através do acesso a plataformas electrónicas
que promovam a cultura portuguesa no estrangeiro
e o acesso a procedimentos a distância
no âmbito do Consulado Virtual. É, pois,
nesta visão reformista, pela afirmação
de Portugal, dentro e fora do seu espaço
geográfico, que se insere a reestruturação
da rede consular, adaptando-a a uma concepção

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moderna e a um rumo mais ajustado
à nossa realidade, mas também às nossas ambições,
substituindo a burocracia pela agilidade
e garantia de serviços mais qualificados,
protegendo direitos na relação
com a administração pública.
As necessidades de proximidade física,
sobretudo na Europa, estão felizmente

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muito mitigadas pelos direitos decorrentes
da cidadania europeia mas também pelos novos
meios disponibilizados para aceder aos diferentes
serviços. Desde o primeiro estudo
realizado que houve a preocupação em garantir
as condições para o melhor apoio e serviço,
redimensionando a rede consular à luz
das novas condições e realidades em presença

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Haverá melhor serviço e mais qualificado apoio
consular depois de concluída a reforma
no final do corrente ano. Se Camões pode inspirar
os nossos dias, nas actuais circunstâncias
complexas, construção será a palavra
adequada para o devir colectivo, tal como
a sua poesia o foi para a Pátria. Uma das maiores
grandezas das Descobertas por ele cantadas,

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mesmo a navegar contra os ventos, foi
a construção de um mundo novo. Essa
é a responsabilidade que passa de geração
em geração e que os portugueses residentes
no estrangeiro conhecem melhor que ninguém.
(…)
(…)
(…)

Fim