23 de março de 2006

Quem não percebeu isso... ... não percebeu nada.

Pelo alcance global, pedagogia local e universalidade excepcional, transcreve-se o que, o Subsecretário de Estado Adjunto do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Professor Doutor Bernardo Ivo Cruz, convidado de honra da sessão solene do Dia da Universidade Lusíada, dissertou no sentido de desenvolver, pois, como se diz nesses serviços centrais, «procedeu a uma intervenção» no Auditório II do Centro de Congressos de Lisboa e que a seguir se transcreve na íntegra para VEXA ponderar (destaques a negro da responsabilidade deste posto).

Arquive-se


Palavras de Bernardo Ivo Cruz

Magnífico Reitor da Universidade Lusíada,
Senhor Chanceler das Universidades Lusíada,
Senhoras e Senhores Professores,
Caros colegas licenciados pela Universidade Lusíada,
Minhas Senhoras e meus Senhores
,

Gostaria de começar por agradecer o amável convite da Universidade Lusíada, na pessoa do Senhor Chanceler das Universidades, para estar hoje entre vós. Confesso também uma grande satisfação por estar hoje aqui, na mesma sala onde há uma década recebi o meu diploma de licenciado em Relações Internacionais.

Mas não vos quero maçar com o meu percurso profissional ou académico. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para convosco discutir a questão fundamental da Cidadania e do nosso papel, tanto individual como colectivo, na construção de Portugal neste novo e muito exigente Século XXI.

A Cidadania de que vos falo baseia-se, como não poderia deixar de ser, em conceitos que nos são caros, como a democracia e a participação, bem como em novas realidades, como a globalização e a sociedade da informação e do conhecimento.

Senhor Reitor
Senhor Chanceler
Colegas licenciados pela Universidade Lusíada
Minhas Senhoras e meus Senhores


Vivemos, de facto, uma nova realidade, diria uma nova revolução, que nos marca e mais nos irá marcar nos anos e décadas que se aproximam. Refiro-me à globalização, cujo impacto nas nossas vidas, estejamos em Lisboa, em Sidney ou em qualquer outro lugar do mundo, é irreversível.

Nunca antes, na História da Humanidade, foi possível saber, quase instantaneamente, o que se passa do outro lado do mundo. Quase parafraseando Churchill, “Nunca antes tantos tiveram acesso a tanto por tão pouco”.

A globalização é um facto e, como tal, não pode ser negada ou rejeitada. A globalização é também um desafio e, como tal, não pode ser ignorada ou subestimada.

Tal como todos os desafios, a globalização comporta riscos e oportunidades: tanto pode marcar as nossas vidas colectivas de uma forma positiva como negativa; tanto pode acelerar a democracia e a participação como tornar as nossas nações ingovernáveis.

Temos, agora, vários e novos instrumentos e meios necessários para participar activa e responsavelmente na vida política, económica, cultural e social das nossas Cidades, do nosso País, do nosso Continente e até do Mundo. Temos também as ferramentas necessárias para interferir de forma irresponsável na condução da Res Publica.

Compete-nos, assim, optar.

Perante esta nova realidade, este novo desafio, torna-se necessário, agora mais do que antes, prepararmo-nos para assumir o papel que nos cabe no mundo.

É fundamental que saibamos utilizar os meios e os instrumentos que a globalização nos fornece de forma empenhada, construtiva, criativa e responsável.

De entre estes, gostaria de salientar a informação. Hoje, em nossas casas, na ponta dos nossos dedos, temos acesso ao mundo. Sabemos o que se passa nos pólos ou no equador, na China ou nas Américas.

A informação é, numa palavra, global.

Mas ter acesso à informação não chega! Não são os 10 segundos que as televisões dedicam a cada assunto que nos permitem conhecer. A informação existe e está disponível, mas conhecermos exige tempo, estudo e empenho. Tal como estar hoje aqui para receberem os vossos diplomas exigiu dedicação e esforço, conhecer para decidir não se consegue sem trabalho.

Mas é este o novo mundo. A capacidade de conhecermos, sem constrangimentos públicos ou privados, sem imposições ou censuras, permite-nos optar mais livremente. Mais democraticamente.

Senhor Reitor
Senhor Chanceler
Caros Colegas
Minhas Senhoras e meus Senhores.


A Democracia é um sistema frágil, que tem que ser alimentado diariamente. Não podemos nem devemos abandoná-la à sua sorte, pois arriscamo-nos a que a sorte nos falte. Não podemos nem devemos demitir-nos das nossas responsabilidades enquanto cidadãos livres de uma sociedade livre. Não podemos nem devemos divorciar-nos do mundo que nos cerca, das suas oportunidades e dos seus desafios, bem como dos seus problemas e das suas aflições.

Nas palavras de Robert Hutchins, que foi presidente da Universidade de Chicago nos anos 30, “A morte da Democracia não será, provavelmente, através de um assassino escondido. Será uma lenta extinção devido à apatia, indiferença e falta de atenção”. E se olharmos para as taxas de abstenção das sucessivas eleições, que quase quadruplicou desde 1976, veremos que Hutchins poderá ter razão. Oxalá que não!

Chamo, assim, a vossa atenção para a necessidade imperiosa, premente e actual de participarmos activamente, enquanto cidadãos, nas decisões que a todos nos afectam.

Participar em democracias liberais, como nos lembram Diamond, Morlina e muitos outros Cientistas Políticos, é muito mais do que votar de 4 em 4 anos. É respeitar e ver respeitados os direitos que nos assistem enquanto cidadãos livres e iguais; É acompanhar, vigilantes, as acções e inércias daqueles que elegemos, controlando democraticamente o uso do poder; É garantir que a lei é igual para todos; É procurar que todos possuam a capacidade de compreender e decifrar o mundo que nos rodeia; É não deixar que ninguém seja excluído.

Esta participação faz-se nas empresas, nas Universidades e nas Escolas, nos Jornais e na Televisão, nos Clubes, nas Igrejas, nas Associações e nas Organizações, tanto quanto se faz na política.

Façamo-la onde a fizermos, temos que a fazer.

Democracia, Participação e Globalização. Estes são os três aspectos que marcarão a nossa actividade enquanto cidadãos, neste novo Século.

A globalização é irreversível e quanto a isso, mesmo que quiséssemos, nada poderíamos fazer.

A Democracia depende de nós. Não é um dado adquirido. Não é uma certeza. É um combate diário, uma preocupação constante, um sistema nunca acabado que deve ser melhorado, aprofundado e reforçado.

A democracia depende de nós. De cada um de nós. Depende da nossa vontade individual de participar activamente nas questões que a todos dizem respeito.

Hoje, mais do que ontem mas menos do que amanhã, a democracia joga-se em todo o mundo. Está, como os sistemas económicos, globalizada. Não podemos deixar de participar. Não podemos olhar para o outro lado, porque o assunto se passa em outro local do mundo que não o nosso.

Temos os meios de melhorar as nossas vidas, tanto individuais como em sociedade. Temos que ter a vontade.

Senhor Reitor
Senhor Chanceler
Caros Colegas
Minhas Senhoras e meus Senhores.


Resta-nos a pergunta: Devemos nós, Europeus, impor os nossos valores a outras culturas e civilizações? Com excepção dos Direitos Fundamentais que a própria Comunidade Internacional adjectiva de Universais, respondo-vos que não.

Devemos, outrossim, sublinhar, pelo exemplo e pela prática, as virtudes que o nosso modelo de democracia nos garante, ajudando os que o queiram a melhorar os seus sistemas, sempre com a modéstia de sabermos que nenhum sistema humano é perfeito e que, se muito podemos ensinar, muito temos igualmente a aprender.

O Mundo é só um e quem não percebeu isso, não percebeu nada da Revolução da Globalização.

Muito obrigado pela vossa atenção.

2 comentários:

Anónimo disse...

Parece uma coisa do Tomás que só li não ouvi...

Olindo Iglesias disse...

Tanta frase lugar-comum, tanto raciocínio desconexo.

Quanto a impor os nossos valores nem comento.

Enfim...