Para que conste, transmite-se cópia do artigo de Nicolau Santos, no Expresso (18
de Fevereiro)
Arquive-se.
Nicolau Santos
O ácido teste da Iberdrola
«Na energia, o PS será mais permissivo que o PSD/PP?»
INTERESSES espanhóis vieram intrometer-se na campanha eleitoral. Na semana
passada, um responsável da Iberdrola veio mostrar simpatia em relação ao
programa do PS para a área da energia e condenar a política seguida pelo
Governo PSD/PP na mesma matéria.
Segundo relata o «Diário Económico», o director de Estratégia e
Desenvolvimento da Iberdrola, José Luis del Valle, sentiu-se à-vontade
para, numa conversa em Madrid com jornalistas, uma parte em «off» e outra
parte em «on», afirmar que o programa do PS para a energia «fala em
estimular a concorrência e isso soa-nos bem»; e para fazer uma crítica aos
governos PSD/PP, referindo que «ao fim de dois anos e meio de política de
energia, é hoje claro que essa política fracassou».
Ora, em primeiro lugar, é de muito mau gosto os responsáveis de uma empresa
estrangeira criticarem as políticas de um Governo soberano; em segundo, se
alguém tem contribuído para adiar a entrada em vigor do MIBEL, o mercado
ibérico de energia, são precisamente os espanhóis, que não só não querem
deixar cair a subsidiação cruzada às grandes empresas do seu país, como na
sequência da vitória eleitoral do PSOE resolveram estudar de novo todo o
processo; em terceiro, soa a presente envenenado para o PS a afirmação de
que estará mais aberto a defender a concorrência energética do que o PSD/PP
- quando se sabe que o presidente da Iberdrola em Portugal é Joaquim Pina
Moura, ex-ministro da Economia e das Finanças de António Guterres, e que
manterá o cargo de deputado do PS na próxima legislatura.
Mais: a Iberdrola, que apesar destas críticas já controla 5,7% da EDP e que
pretende colocar um seu representante no conselho de administração da
empresa portuguesa (o que tem a absoluta oposição de João Talone, que já
disse que se demitirá se isso acontecer), parece esperar agora, se o PS
formar Governo, desbloquear os seus projectos no nosso país, nomeadamente a
aprovação de uma licença para a construção de uma central de ciclo
combinado na Figueira da Foz, conforme afirmou taxativamente o
vice-presidente da empresa, Ignacio Sanchez Gálan.
Como é evidente, a Iberdrola percebeu que tinha exorbitado - e na
segunda-feira divulgava um esclarecimento dizendo que não toma posição em
processos eleitorais, que é neutral face às opções políticas de qualquer
país e que não foram criticadas as actuações no sector energético dos
governos PSD/PP.
Acontece que a direcção do «Diário Económico» subscreve tudo o que a sua
jornalista escreveu - concedendo apenas que Luis del Valle disse que tanto
lhe fazia que ganhasse José Sócrates ou Santana Lopes.
Como é evidente, o que daqui se retira é que a Iberdrola, confiante no seu
representante em Portugal, aliás fartamente elogiado, espera ter mais
facilidades na área energética com um Governo PS do que com um Governo
PSD/PP - o que obrigará os socialistas, se formarem Governo, a serem
particularmente escrupulosos nos negócios que o Estado terá de avalizar
neste sector.
Para que não aconteça algo que escrevi - e adapto: «A Castellana é uma
avenida muito conhecida/E comprida/Tão comprida que atravessa o meu país».
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