27 de janeiro de 2005

Carta do Canadá. De Fernanda Leitão

Segue para SEXA, reprodução da crónica de Fernanda Leitão

Arquive-se, antes que apenas conste.

CARTA DO CANADÁ
Fernanda Leitão

O FOLHETO

Um dia destes recebi, dentro de um envelope que exibia o remetente do PSD no bairro da Lapa, em Lisboa, um folheto, em papel couché impresso a várias cores, que propagandeava, com abundância de elogios e fotografias, os candidatos daquele partido ao círculo da emigração que se optou por designar Fora da Europa depois de o mesmo partido ter chamado muitos anos aos emigrantes desse círculo o Resto do Mundo.

Fiquei profundamente irritada e considerei o folheto uma obscenidade, um insulto atirado à cara dos portugueses residentes fora da Europa por esse partido ter o descaramento de apresentar, como cabeça de lista, o mesmíssimo José Cesário que, depois de ter andado uns poucos de anos pendurado na burra da política, a comer à conta de todos nós sem produzir nada de útil para o país, conseguiu ser depois o pior secretário de estado das Comunidades de que há memória nos últimos 30 anos. Uma nódoa. Uma afronta à inteligência, à decência, ao bom senso. Uma estupidez, só de presença, ainda por cima assumida por todo um (des)governo liderado sucessivamente por um que fugiu para Bruxelas e o seu sucedâneo piroleiro, troca-tintas e sem legitimidade.
Mais irritada fiquei ainda quando pensei, com natural lógica, que esse folheto tinha sido mandado às dezenas de milhar para os círculos eleitorais Fora da Europa. É assim que os partidos gastam os milhões que o povo, farto de aturar maus políticos até por cima dos olhos, é obrigado a pagar por força de legisçação concebida e parida pelos que vivem dos dinheiros públicos palrando numa coisa que enfaticamente se chama parlamento e não passa de um pátio de cantigas. Um país que está de tanga, e sem norte, a ser espremido até à última gota por um bando de mentecaptos descarados.

Nos dias que se sucederam pude verificar, ao vivo, que a minha irritação era mesma que sentiam muitos que receberam o tal folheto. E assim, facilmente se perceberá que a visita à comunidade portuguesa do Canadá dos rapazes que vinham naqueles retratos, realizada há dias, tenha sido um fracasso completo. Ninguém lhes ligou importância, embora a agência noticiosa LUSA diga o contrário, o que se compreende porque o seu delegado local é um homem que tem vivido pendurado no PSD pelo menos desde há 25 anos. Foi um afilhado querido de Manuela Aguiar, a deputada crónica que, ao fim destes anos todos, sai de cena sem glória nem apreço, sem nada ter feito de útil em favor dos portugueses exptariados.

E eis que leio nos jornais da irritação e nojo de autarcas, vários mesmo do PSD, ao receberem a granel a fotografia de estado, leia-se em estilo pavão, do Pedrocas das Larocas que tem estado, com uma carrada de santanetos e de santanetas, do seu partido e do CDS, a brincar aos governos no palácio de São Bento. Muitos, com uma franqueza saudável, afirmaram aos jornais que deitaram as fotografias para o lixo, indignados com o balúrdio gasto por um político vaidoso que já estava demitido, agoniados com esta insistência cheirando “à Outra Senhora”. O problema é esse. O salazarismo foi um vírus propagado pelo Palácio Foz, ali onde, à boa moda da Europa onde pontificavam Hitler e Mussolini, foi inventada a propaganda do regime. Viu-se no que deu essa propaganda cega: um 25 de Abril de 1974 que, em vez de derrubar um regime até às últimas consequências, através da Educação e da Economia, se meteu numa revolução de enredos, intrigas, perseguições, traições e corrupção. Uma revolução medíocre em que os doentes desse vírus têm tido caldo de cultura para se irem governando.

Nenhum social democrata decente, digno, inteligente, se pode rever num partido que é, nos dias de hoje, o maior insulto à memória de Francisco Sá Carneiro. Nenhum português de lei pode calar-se por mais tempo a este esquartejar da Pátria.

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