16 de setembro de 2004

Declarações de António Bento Bembe (FLEC)

Submeta-se à consideração superior, o texto com declarações do secretário-geral da FLEC, António Bento Bembe, publicadas na página http://www.ibinda.com/noticias.php?noticia=1117, e que se transcrevem.

Arquive-se.


Primeira entrevista do secretário-geral da FLEC
Bento Bembe defende uma solução política para Cabinda
2004-09-14 00:22:55

Cabinda - António Bento Bembe, secretário-geral da nova Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), concedeu ao Ibinda.com a sua primeira entrevista após a fusão dos dois movimentos político militares cabindas, FLEC/FAC e FLEC Renovada. Para este dirigente, que defende uma solução política para Cabinda, a actual estrutura do movimento sai reforçada na união, e, salienta, «pela primeira vez, numa tal decisão, participou a sociedade civil e particularmente a igreja».

Bento Bembe garantiu ao Ibinda.com estar, «mais do que nunca», certo que, desta vez, a «esperança de união foi concretizada com o trabalho que foi realizado, reforçado com a implicação de grandes personalidades, tais como da igreja», e acrescentou estar convicto «que só a unidade nacional pode ser a garantia para negociações credíveis com Angola, e para a continuidade da nossa luta até à vitória». Na opinião do secretario-geral da FLEC «o povo agora pode ter maiores esperanças, para que Cabinda possa encontrar uma solução justa num futuro breve».

A recente fusão dos dois movimentos (FLEC/FAC e FLEC Renovada), e a consequentemente incorporação das duas estruturas numa só, redimensionou o movimento. No organigrama da actual FLEC, Nzita Tiago é o presidente e Bento Bembe ocupa o cargo de secretário-geral. Com o objectivo de «dissipar qualquer dúvida», dado que ocupara anteriormente o posto de presidente da FLEC Renovada, Bento Bembe considera que «a actual posição» que ocupa «é uma evolução».

«Deveremos reconhecer a personalidade do presidente Nzita para ocupar o posto de presidente do movimento nesta nova estrutura da FLEC», deixou claro Bento Bembe, acrescentando que «temos de compreender de onde é que o presidente Nzita vem e quais foram os seus sacrifícios. Ele merece esta posição pois foi na base de um consenso que assim decidimos. Não fomos para Emmaus (Holanda) por causa das posições mas sim com o objectivo de respondermos positivamente aos apelos constantes do nosso povo para a união das duas principais forças». O dirigente garantiu ainda ao Ibinda.com que se sente «muito motivado, porque é desta vez, com a actual estrutura, poderemos fazer um trabalho ainda maior».

Com a recente «Operação Vassoura», uma ofensiva militar angolana em Cabinda, a FLEC/FAC e a FLEC Renovada reviram e readaptaram toda a logística militar. No intuito de garantirem a manutenção de uma e outra resistência, como escudo contra cada uma das suas próprias posições, as resistências já colaboravam mutuamente. No novo quadro da FLEC e consequente fusão das estruturas, as forças armadas saem assim reforçadas em efectivos globais, áreas controladas e armamento. No entanto, Bento Bembe garante que a fusão «não foi com o desejo de engrossar as fileiras das forças armadas» e adianta que a decisão de fusão dos dois movimentos foi tomada «porque esta sempre foi a exigência do nosso povo. A fusão é a resposta exacta às aspirações do nosso povo. Seja a FLEC/FAC, seja a FLEC Renovada, eram ambos dois movimentos político militares, assim a fusão foi a fusão de ambas as vertentes, mas», adverte, «não significa que vamos intensificar a guerra com Angola, essa guerra já foi feita durante mais de 30 anos, e com a guerra não tivemos os resultados esperados, nem Angola nem nós, assim agora nossa luta deve ser uma luta política».

Bento Bembe revelou que a FLEC «está disposta a negociar o fim das hostilidades para por fim ao estado de guerra em Cabinda», acrescentando que «não há nenhuma outra hipótese senão a via política para implantar a paz em Cabinda». Para o secretário-geral, a fusão dos dois movimentos «permite à FLEC», no quadro do recém criado Fórum Cabindês para o Dialogo, «apresentar o interlocutor válido para negociações, tal como o Governo de Angola pediu, do futuro estatuto de Cabinda», no entanto, adianta que «os combates não podem cessar, por não ainda não decidimos nenhum cessar-fogo com Angola», e, sublinha, «se os combates ainda não cessaram é porque o Governo angolano ainda não proclamou o fim da guerra, muito pelo contrário, cada vez se organiza mais para nos atacar».

«Angola não pense que a fusão dos dois movimentos signifique uma intensificação a guerra. Nós sempre estivemos a favor de um processo pacífico para a solução do conflito em Cabinda. Penso que agora o interlocutor válido que Angola sempre pensou não existir está constituído neste momento, e peço ao Governo Angola para por a mão na consciência e pensar nos prejuízos materiais e humanos que a guerra em Cabinda já provocou para ambos os lados, daí que devem colaborar connosco numa solução pacifica», disse ainda o dirigente.

A divisão no seio da resistência cabinda tem sido um dos argumentos esgrimidos pela comunidade internacional para justificar o seu desinteresse e silêncio pela questão. «Todo o mundo nos olhou divididos, mas neste momento a comunidade internacional já está informada da nova realidade da FLEC, de ser uma único movimento», quis deixar claro Bento Bembe, esperançado de que «é desta vez que vamos ver a boa vontade dos países que sempre afirmaram não intervir na questão de Cabinda porque os movimentos estavam divididos. Agora como essa divisão já não existe mais vamos agora a diligencias junto desses países para que eles manifestem uma posição sobre Cabinda».

Para Bento Bembe, a implicação de Portugal na busca de uma solução para a questão de Cabinda é indispensável, «porque nós temos uma longa história com Portugal». O dirigente relembrou que Cabinda «foi um protectorado de Portugal e foi Portugal que deixou Cabinda nesta situação miserável, mas Portugal é também a grande testemunha da verdade sobre Cabinda e deve tomar as suas responsabilidades. Não vamos descansar de interpelar Portugal para que reconheça o seu erro cometido durante a descolonização».

Para o secretario-geral da FLEC, «o problema é que Portugal anda preso ao bolso económico de Angola». «Portugal é refém económico de Angola, mas é bom que fique claro, no dia em que os cabindas se tornarem soberanos os interesses económicos de todos os países não serão postos em questão e até mesmo poderão vir a ser fortalecidos», garantiu.

Bento Bembe revelou ainda que com a FLEC fundida surge uma equipa reforçada e «mais forte, dado que no ponto de vista da nossas experiências conjuntas, a todos os níveis das nossas estruturas, somos agora muitos a partilhar diversas experiências e conhecimentos, assim estamos mais aptos para podermos responder a todas as formas e em todas as frentes que Angola se apresentar».

Por fim, o responsável ressaltou os pontos comuns existentes entre cabindas e angolanos, como via para o diálogo. «Tanto Angola como Cabinda sofremos com o mesmo passado colonial. Somos maioritariamente católicos e ambos lusófonos». Citando o padre Jorge Casimiro Congo, quando este afirmou que em Cabinda «o sofrimento fala português», o secretario-geral da FLEC acrescentou que o dialogo entre o povo de Cabinda e o angolano «também fala português».

(c) Ibinda.com

2 comentários:

Anónimo disse...

António Bento Bembe, é sem dúvida grande líder Cabinda. Único Cabinda que não se deixa iludir. Um Homem flexível e capaz.
Tenho a certeza absoluta que esse senhor vai conseguir alguma coisa razoável para as populações do Enclave de Cabinda. O Estatuto Especial para Cabinda já aceite pelas dieferentes sensibilidades da FLEC, pelo Fôrum, pelas Igrejas e pelas populações de Cabinda é o começo da solução definitiva do conflito da província angolana de cabinda. O Bento vai conseguir. Mas ninguém em Cabinda foi capaz de marcar este passo fora do Bento Bembe e os seus irmãos que vivem a amargura em Cabinda. Força BB você vai conseguir. Vai e concretize! ViVa a paz e a liberdade em Cabinda.

Anónimo disse...

BB é um homem absolutamente determinado e que apenas que não o conhece se deixa iludir pelas confusões daqueles que bem se querem e não bem querem para o povo de Cabinda. Bento ajuda-nos. O POVO está CONTIGO!