20 de março de 2004

Diplomacia equiparada

Há 260 portugueses na miséria? Façase um jantar de gala com insccrições ao preço dos dos ofícios/convite. Origem: PortugalClub.

Arquive-se.

EVENTOS SOCIAIS - ANGARIAÇÃO DE FUNDOS

Saul da Silva Ferreira

Sob o título acima, o Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro, por seu titular, informa em oficio numerado encaminhado a personalidades da comunidade portuguesa que “diariamente acorrem a este Consulado-Geral dezenas de pessoas, de diferentes idades, em situação de extrema pobreza, sem familiares e com graves problemas de saúde”.

A informação continua, dizendo que “no sentido de minorar o sofrimento dessas pessoas, o Serviço Social deste Consulado-Geral levará a cabo (...) um Jantar de Gala para angariação de fundos a favor da Comunidade Portuguesa em situação de reconhecida carência, actualmente estimada em cerca de 260 nacionais, no próximo dia 21 de maio, na Casa da Vila da Feira e terras de Santa Maria, Rua Haddock Lobo.195,Tijuca”.

Preliminarmente,parabéns ao titular do Consulado-Geral de Portugal por admitir a existência de emigrantes carenciados e em situação de extrema pobreza, o que nesta coluna tem sido abordada, o mesmo não se verificando com as autoproclamadas lideranças locais.

Entretanto, como foi que Sua Excelência chegou ao número mágico de 260 nacionais carenciados, se ninguém, em sã consciência, pode afirmar qual o quantitativo aproximado, não digo exato, de emigrantes portugueses residentes na jurisdição do Consulado – Geral do Rio de Janeiro e dos outros também?

Se são dezenas de pessoas, repito, dezenas, que acorrem ao Consulado, parece-me 260 (vinte e seis dezenas não deve ser o quantitativo exato. Por que não serão 2600 ou mesmo 26000 o quantitativo de carenciados?

Ultrapassado o quantitativo de carenciados que só pode ser identificado honestamente e sem demagogia com a realização do censo dos emigrantes, há que se perguntar porque o Estado Português em vez de prover a assistência a seus emigrantes em estado de penúria recorre a “esmolas” da coletividade?

E porque um Jantar de Gala a R$ 50 por pessoa?

E quantos jantares serão necessários para mitigar a pobreza desses infelizes emigrantes?

É atribuição do Consulado patrocinar eventos para angariação de fundos? Estará esta iniciativa incluída na “nova diplomacia econômica” do Governo?

Depois da promoção comercial do 10 de junho no Palácio São Clemente, Jantares de Gala para angariar fundos, só falta promover uma sardinhada . Pobre diplomacia econômica que desrespeita os emigrantes, humilhando-os, cobra-lhe taxas consulares muito acima de suas posses sem que a voz da consciência daqueles que se dizem seus líderes se alevantem.

Ou será que a exemplo do ressurgimento da política das comendas, ressurge também o assistencialismo eleitoreiro de tempos atrás que serviram de trampolim eleitoral a funcionários do Consulado?Quem serão os candidatos agora e qual o partido beneficiário? O tempo dir-nos-á.

O Estado Português precisa recorrer à comunidade para assistir os seus filhos deserdados da sorte e da Pátria, mas com os cinco milhões de dólares emprestados a uma instituição beneficente destas bandas pela Caixa Geral de Depósitos e dizem que com o aval do Estado e que não foi resgatado até hoje, poderia se o quisesse e se para isso houvesse vontade política poderia instituir um fundo com o objetivo de assistir os emigrantes carenciados, sem demagogia e sem politiquice.

Os emigrantes não querem esmolas. Querem respeito pelo seu sacrifício e pela saudade da Pátria que nunca renegaram embora a recíproca, sabemos , não é verdadeira.

Não será com jantares de gala, nem com sardinhadas que se resolverá a crise vivenciada pelos emigrantes mais pobres cujo quantitativo não se sabe.

A solução está na formulação de políticas públicas honestas e transparentes para a emigração por parte dos Governos portugueses de plantão em Lisboa e não por arremedos de auxílios tipo esmola e de jantares e banquetes aos quais os emigrantes comuns não são chamados e em seu nome brindes são feitos com hipocrisia.

A primeira medida seria para a adoção de políticas para a emigração é o censo dos emigrantes, quer no Brasil, quer na Venezuela, quer na Argentina, quer em todo o mundo onde se encontrem emigrantes portugueses. Sem esta medida tudo o que se fizer é demagogia e vontade de aparecer sob as luzes do palco.

Saul Ferreira da Silva - RJ

1 comentário:

Anónimo disse...

Isso foi realmente interessante. Adorei lê-lo