4 de novembro de 2003

Protesto de «emerging», pendente desde 13 de Outubro...

Arquive-se.

Proveniência: Remetente identificado. Protesto em lista de espera desde 13 de Outubro.


«Protesto,

Em primeiro lugar contra o vício que as pessoas têm de escrever coisas, como se tivessem num jornal onde o direito de resposta é uma fantochada, aliás aqui nem há direito de resposta.

Em segundo lugar, contra a visão que permanentemente é exposta neste blog, como se as necessidades devessem ser o centro do contra-poder, ou em alternativa, alguém que tem uma agenda própria ao arrepio do que é a vontade do governo como um todo, em especial do primeiro ministro.

Confesso, que me custa a ignorância que o gabinete do primeiro ministro por vezes demonstra ...

Mas na minha opinião, tanto as necessidades, como a diplomacia são um albergue de diplomatas do passado, vivendo a teoria da conspiração em permanência, mais preocupados com questões tácticas (até parece que somos alguma potência mundial) e pseudo-estratégicas (dá-me vontade de rir o que os diplomatas, sejam económicos da nova versão, ou não económicos da velha guarda, consideram como questões estratégicas - aqui confesso que os da nova guarda, se é que os há são menos maus que os outros) do que com o que verdadeiramente é importante ...

Acima de tudo faz falta que olhemos para os outros e aprendamos, com aquilo que os outros fazem de bom ...

Capacidade técnica e qualidade são atributos que faltam ao corpo diplomático português, pois só alberga especialistas de relações internacionais e juristas frustrados, que podem ser muito bons em termos protocolares, mas que sobre a essência das coisas não acrescentam grandes mais valias ...

Fico profundamente desiludido ao ver as nomeações do governo, pois aposta em figuras não cinzentas, mas neutras ...

Além do mais, o que é que interessa o Médio Oriente a Portugal ???? Umas miseráveis migalhas dos despojos da guerra ??? Umas felicitações por estarmos do lado certo (dos vencedores) ??? Umas críticas de um bando de pseudo-moralistas que teoricamente defendem o bem, mas na prática permitem o florescimento do terrorismo ???

Há zonas do mundo bem mais importantes para Portugal e onde a nossa intervenção deveria ter uma componente mais estratégica, não com os saudosismos bacocos, nem com os complexos de culpa colonialistas, mas com uma visão de futuro ...

Andar com homenagens a traidores, apoiar descaradamente empresas portuguesas cujo capital hoje é português e amanhã não se sabe, favorecer grupos de empresários amigos, conhecidos e potenciais financiadores de campanhas partidárias, bem como lobbies (como o poderoso lobby do norte que ameaça concentrar os investimentos do ministério da economia e a tentativa de atracção de investidores estrangeiros numa região do país, recorrendo para tal a pseudo-economistas independentes - Daniel Bessa e João Confraria - cuja denominação já diz tudo) que estão interessados nos centros de decisão nacionais, mas mal têm a oportunidade vendem tudo aos estrangeiros (Banco Totta, Siderugia, etc., etc.), dar relevo a um Presidente cujas intervenções têm contribuído mais para porar do que para melhorar a situação e a mentalidade dos portugueses, não é ter intervenções estratégicas para o nosso país ...

É certo que a diplomacia não tem responsabilidades na maioria destes pontos, mas tem responsabilidades em não se saber actualizar, em não compreender que já não somos a potência colonial e os nossos interesses estratégicos dependem de questões bem mais comezinhas, não esquecendo a necessidade de contribuir para as grandes causas internacionais (Bósnia, Médio Oriente, Timor, etc.) mas compreendendo que não devemos malbaratar os nossos esforços com assuntos cujo retorno é tão diminuto para Portugal ...

- a PAC deveria ser extinta (era benéfico para os portugueses e para os países de expressão portuguesa)
- bem como Portugal deveria lutar não pela proibição de acesso dos barcos espanhóis às nossas águas mas pela garantia da protecção das espécies piscícolas e marisco através de temporadas de repouso e fiscalização apertada
- o desenvolvimento do mercosul e o estreitamento das relações comerciais ue-mercosul
- o desenvolvimento das condições para o estabelecimento de economias de mercado nos países africanos de expressão portuguesa, bem como as comunidades vizinhas (SADC, união económica da áfrica ocidental)
- a difusão do ensino da língua portuguesa, bem como da história e cultura em moldes bem diferentes do que hoje em dia fazem o ICA e o Min. Educação
- o fim da palhaçada que é a cooperação inter-municipal, onde se malbarata dinheiro que seria muito útil para outros aspectos
- as questões associadas à constituição da europa (nomeadamente os problemas de representatividade, de democracia e de soberania - a propósito quem é que foi mandatado para aceitar mudanças constitucionais de tão grave importância como as que se avizinham)
- as negociações de doha e a progressiva abolição de tarifas aos produtos primários de países em desenvolvimento (bem como a eliminação/diminuição progressiva dos subsídios que tanto mal causam às economias)
- a luta contra o facilitismo da abolição de patentes, algo que impede o investimento a sério em investigação da SIDA (em especial das estirpes africanas e de outras regiões sub-desenvolvidas), da malária e da tuberculose que ainda hoje matam aos milhões - será que ninguém entende que para os laboratórios é muito mais rentável investir em viagras e tratamento contra a queda do cabelo, pois o retorno é muito maior e que sem a investigação privada (que mobiliza incomensuravelmente mais recursos que alguma vez a investigação pública mobilizará - mesmo com o bill gates) dificilmente se chegará à descoberta de vacinas que combatam tais pandemias (a ideia não é eliminar o lucro de quem faz, mas aumentar os rendimentos de quem compra, isto é em vez de tirar patentes a quem investiga e produz, asegurar a existência de procura por parte de quem hoje não tem dinheiro)
- a luta pela implementação de medidas associadas ao tratado de kyoto
- a luta pela progressiva desregulamentação (não no sentido de acabar com as leis, mas de diminuir a sua capacidade de entropia) dos mercados de trabalho a nível europeu
- a luta pelo cumprimento do pacto de estabilidade por parte de todos os países (factor essencial para a credibilidade da economia europeia que tão por baixo anda)
- a progressiva harmonização fiscal e tributária a nível da união europeia (não só ao nível do automóvel)

Estes entre outros, são pontos bem mais estratégicos que as políticas que a diplomacia e mesmo o governo se preocupam, pois também a nível interno muito haveria por fazer e para decidir, mas isso são outras lutas ...

Mesmo sabendo que não existe direito à resposta, e que dificilmente a leitura chegou a este parágrafo (leitura de tudo o que atrás disse), gostaria que considerasse a possibilidade de existir um espaço de resposta, bem como de comentar parcialmente (pois se fosse a comentar na totalidade seria porventura tão fastidioso, como o fui ao escrever este e-mail) o e-mail que aqui envio.

Atenciosamente,

Um ex-colaborador das estruturas associadas ao MNE»

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