Afirma Kelly Silva que "o candidato da Frentilin, o Lu-Olo, recebe apoio de instituições portuguesas e também de Cuba. Nisso entra também a questão da disputa lingüística em Timor, que é muito forte sobretudo para a Austrália e para Portugal". Não seria preferível a investigadora investigar o que o Brasil fez em conivência com a ditadura indonésia até à intervenção corajosa de Itamar Franco e Aparecido de Oliveira na inversão da tíbia posição diplomática do Brasil que era ditada pelos interesses meramente comerciais? Ramos Horta é testemunha directo disto. Na verdade Kelly Silva sabe muito mas esquece o resto, sem grande honra. Transcreve-se trechos da entrevista de Kelly Silva à Folha de S. Paulo.
Arquive-se.
Entrevista publicada na Folha de S. Paulo (10 de Abril)
Portugal e Austrália "disputam" Timor
Pesquisadora da UnB (Kelly Silva) diz que países apoiaram candidatos distintos na eleição; projeções indicam 2º turno
Flávia Marreiro
Além das forças políticas locais que apoiaram os oito candidatos a presidente, "forças globais" estavam em disputa evidente nas eleições presidenciais de ontem em Timor Leste -que transcorreram sem incidentes e com alta participação, segundo a ONU. É o que afirma a professora de antropologia da UnB Kelly Silva, que esteve em Timor até a semana passada para estudar o processo eleitoral do país. O candidato apontado como favorito, o premiê José Ramos Horta, é apoiado pela Austrália que tem, diz ela, interesse tanto no petróleo quanto na localização estratégica do Timor. Do outro lado da disputa, está Portugal, apoiando o candidato da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente), Francisco Guterres, o Lu-Olo. Segundo Comitê Eleitoral Nacional do Timor, além de Ramos-Horta e Lu-Olo, aparece entre os mais votados Fernando Lassama, do Partido Democrático (tem apoio da Austrália). Segundo projeções, haverá segundo turno.
(Trechos da entrevista com Kelly Silva)
Folha - A sra. escreveu que a eleição de Timor é disputada entre forças globais e locais. Por quê?
Kelly Silva - É um processo eleitoral que é disputado "glocalmente" por forças políticas que estão dentro e fora de Timor. Um exemplo: um dos candidatos, o Fernando Lassama, que é do Partido Democrático, antes de abrir a campanha estava na Austrália, fazendo visitas a autoridades para conseguir eventual apoio nas eleições.
O apoio de diferentes agentes ligados à Austrália à candidatura do primeiro-ministro Ramos Horta também é evidente. Por outro lado, o candidato da Frentilin, o Lu-Olo, recebe apoio de instituições portuguesas e também de Cuba. Nisso entra também a questão da disputa lingüística em Timor, que é muito forte sobretudo para a Austrália e para Portugal.
Dois dos candidatos criticaram a escolha da língua portuguesa como oficial, o que tem a simpatia da Austrália porque abre a possibilidade de rever essa resolução no futuro.
FOLHA - Nesse sentido, como avaliar a presença das tropas australianas no país?
Silva - Na crise de 2006, a polícia timorense implodiu, daí a necessidade das tropas da Unpol [polícia da ONU]. Houve também a fragilidade das forças de defesa. É nesse quadro de fragilidade do próprio Estado que ocorre a presença de forças internacionais, com contingente australiano importante.
Formalmente, estão ali para garantir a estabilidade do Estado, mas podem trabalhar também para a manutenção e aprofundamento dessa fragilidade. Daí a faca de dois gumes que analistas atribuem à presença militar australiana. Segundo esses analistas, há interesse da Austrália em manter a fragilidade timorense. Por várias razões, entre elas a exploração das reservas petrolíferas.
FOLHA - Qual o estágio da regulamentação para a exploração?
Silva - Parte desse arcabouço já está feito. Foi ratificado pelo Parlamento um acordo internacional de exploração do petróleo no mar de Timor. Mas existe muito mais a ser discutido. Mas a questão do petróleo, para analistas de estratégia militar, nem é a mais importante para a Austrália, e sim a posição geográfica estratégica de Timor, para instalar uma base militar, por exemplo, num contexto de eventual conflito com a China ou com a Indonésia, a maior potência muçulmana.
FOLHA - O que representa a eleição para a nova nação de Timor?
Silva - Em termos concretos, o papel do presidente da República é muito tímido. Timor é um regime semipresidencialista, com forte pendor parlamentar. No entanto, essa eleição presidencial têm o papel importante de criar um espaço público legítimo para a apresentação das diversas propostas de grupos das elites timorenses ao processo de edificação do Estado e de reconstrução da sociedade. É também a ante-sala dos conflitos que virão agora no próximo trimestre com as eleições parlamentares que, do ponto de vista prático, representam muito mais.